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terça-feira, 5 de abril de 2016

As mentes quadradas: o quanto o ódio pode ser prejudicial para a sociedade?


O ódio está cada vez mais frequente em nossa sociedade. Começamos a discussão com essa simples frase afirmativa e cada vez mais confirmada nessa triste e dura realidade pela qual a sociedade vivencia. Uma sociedade que discrimina, que planta e dissemina o ódio por todas as partes. Ódio este manifestado em simples atitudes cotidianas, que em muitas das vezes, passam despercebidos aos nossos olhos. Os mais lúcidos e analíticos percebem e estudam o fenômeno criticamente tentando, ao menos, entender o processo de enraizamento e propagação deste ao longo das gerações.
Ao longo de toda a história da humanidade o ódio sempre existiu – mascarado ou não – causando a destruição massificada de povos e culturas. Tal perseguição também provocou a morte de grandes intelectuais e pensadores que tanto contribuíram para o entendimento da atual sociedade em que vivemos. Isso se propagou de maneira estrondosa, refletindo em uma cultura onde a raiva, o rancor e a inveja sobre a felicidade alheia são vistas a cada esquina. Quando abordo o ódio, me refiro a todas as formas possíveis de disseminação de preconceitos[1]. Preconceitos que matam sonhos e esperanças de milhares de pessoas.
Somos vítimas das opiniões pré-fabricadas com base em ideologias fascistas e extremistas que são distribuídas por falsos e medíocres líderes. Líderes que propagam o ódio de maneira rápida entre os ditos seguidores. Seguidores cegos, surdos e mudos que se convencem facilmente, reproduzindo a mesma ideologia pregada a outrem, disseminando assim a falsa e enganosa ideia de bem e verdade. O medo colocado por estes – e também institucionalizados pelas religiões para causarem temor aos fiéis – coloca ao meio social barreiras que impedem o exercício real da razão, fazendo com que a única saída seja acreditar no que está sendo discursado. Qualquer contravenção ao que pregam, significa o fim e a sua condenação eterna, onde sua alma queimará dolorosamente no inferno.
Também aqui, confirmado pela própria história, as minorias sempre foram vítimas e alvos diretos daqueles que de uma forma ou de outra, preocuparam-se da exclusão destes – mesmo que de maneira simbólica – da sociedade. Mulheres, negros, imigrantes, homossexuais, bissexuais, travestis, transgêneros, crianças e adolescentes tornaram-se vítimas de um círculo vicioso que prega o extermínio e a eliminação de seus direitos. Podemos aqui comentar sobre a escravidão que se arrastou por longos e duros anos, levando milhares de negros (homens, crianças e mulheres) à morte e a viverem momentos de terror, vítimas da tortura e do ódio. O mesmo acontece com a luta das mulheres para conseguirem o seu espaço em uma sociedade tão machista como a nossa. O holocausto que custou a vida dos cerca de seis milhões de judeus – como também tudo aquilo que era considerado fora dos padrões pregado por Hitler e demais seguidores – também são exemplos. Representações de lutas árduas e constantes, que continuam fortemente no atual século.
Tantos episódios ao longo da história demonstraram a profunda admiração da sociedade pelo ódio. Admiração esta que se prolonga e se desloca para outras minorias atualmente. Ultimamente a comunidade de Lésbicas, Gays, Travestis/Transexuais/Transgêneros e Bissexuais (LGBT) vêm sofrendo constantes ameaças. Alvos fáceis para a formação e propagação de discursos de ódios, baseados muitas vezes, por posições religiosas. Aqueles – que por algum motivo ou até mesmo por pura ignorância – defendem e pensam como muitos líderes – que se dizem pregadores da verdade única e incontestável – acabam por não terem a mínima noção do que estão dizendo. O acesso à informação hoje em dia aumentou muito, mas poucos se prestam a analisar a qualidade e a veracidade destas.
Uma atenção especial às ideologias religiosas fortemente penetrantes na mentalidade dos indivíduos, fazendo com que o senso crítico e real da situação seja escondido em meio a elas. É interessante notar que em nosso país, a religião assume um papel importante na constituição de crenças da sociedade. Mesmo que essas crenças sejam inverídicas, são notáveis os discursos e justificativas envolvendo concepções ideológicas ligadas a alguma instituição religiosa para disseminar o ódio e a ignorância. Tais posições impedem o avanço de políticas importantes em nosso país, fazendo com que, em pleno século XXI o ódio e o desrespeito persistam.
A comunidade LGBT ganhou força para reivindicarem seus direitos e igualdade perante a sociedade. Lutas essas que fomentam práticas na busca por direitos garantidos pelos Direitos Humanos, mas que na legislação brasileira, parece não serem garantidos. Ultimamente, graças ao Supremo Tribunal Federal (STF), a igualdade ao casamento, ao direito de plano de saúde ao cônjuge do mesmo sexo, ao direito a adoção e muitos outros foi possível visando ao avanço de práticas igualitárias, sem distinção entre união heteroafetiva ou homoafetiva.
Mas não pense que a comunidade LGBT também não pratica o ódio.  Há, infelizmente, dentro desta sociedade, o insulto e a não aceitação às diferenças. Padrões de beleza, de moda, de corpo ou qualquer outra exigência para pertencer à maioria são ditos como corretas. O diferente é recusável. Uma clara manifestação do ódio. Manifestações estas que diminuem os que não se enquadram aos padrões, causando tortura psicológica e intenso sofrimento. Questiono: como pode em uma própria comunidade em que se luta para ter direitos iguais na sociedade, pode haver tanta discriminação e manifestação de ódio?
Infelizmente verificamos que o ódio está presente em todos os lugares, assumindo variadas formas e atingindo muitas pessoas. Não sabemos nos contentar. Vanglorificamos o sofrimento do outro. O mal contamina. O sofrimento do outro é sempre mais importante do que a felicidade. Idolatramos o sofrimento e ignoramos a felicidade. A felicidade pouco nos importa. O sofrimento muito nos faz bem e nos importa (desde que seja o do outro). A felicidade perde seu sentido essencial. O sofrimento ganha o seu sentido mais amplo e desolador. Vivemos tempos de luxo. Luxo pelo sofrimento.
Em tempos modernos e cada vez mais líquidos, Bauman já nos aponta e nos dá indícios do quanto nossas relações – amorosas ou não – estão fragilizadas.  Fragilidades que nos colocam frente a uma realidade nua e crua. Mas, afinal, por que o ódio merece tanto crédito? É difícil entender o motivo e o merecimento de tanto crédito, pois, somente a análise cada vez mais minuciosa e crítica da realidade poderão ou não nos dar uma resposta.
No que diz respeito às diferenças, preciso afirmar, com base no que a filósofa Márcia Tiburi comentou uma vez, que a única forma de combatermos o preconceito é nos afirmando enquanto integrante desta sociedade, sem medos e sem receios.
Se iremos terminar e acabar com o ódio, isso não se sabe. O que se sabe é que é através desta autoafirmação e da reflexão crítica que poderemos moldar o ódio, tentando explicar a sua tamanha dimensão e sua possível erradicação do meio social – o que acho bem difícil (ou nem tanto) de acontecer.

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